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Margarida C.
Lisboa/Manaus
Repórter




Quote: 'se deus quiser / um dia eu quero ser índio / viver pelado / pintado de verde / num eterno domingo'




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    Conexão Lisboa-Manaus


    Faltam apenas para a Grande Dança das Tribos começar!


    «Viajar! Perder Países!»

    sexta-feira, março 30, 2007
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    Foto de Margarida C. - Da amurada do 'Golfinho Azul', Cais Velho de Manaus (AM, 2006)


    Aguardo a acalmia do trânsito no cais. Muita gente chegando e partindo, nos últimos dias, tumultuando o tempo, na voracidade de sugar cada magro momento das presenças em passagem. Acontece que estarei por minha conta, sozinha em Lisboa, durante a próxima semana. Com o devido perdão, que a informação fique como resposta (telegráfica e colectiva, eu bem sei!...) aos e-mails recebidos, entretanto.
    Prometo, nessa brecha, resgatar a ausência aqui do blog.
    E, nesse vai-e-vem, que vem-e-vai e faz que vai-não vai, e indo-e-vindo fica, lembro-me de Pessoa ao de leve.
    Mas só ao de leve. Por enquanto. Até ver. Até ser hora.

    Forte abraço meu, a todos do 'Conexão'!


    Viajar! Perder países!
    Ser outro constantemente,
    Por a alma não ter raízes
    De viver de ver somente!

    Não pertencer nem a mim!
    Ir em frente, ir a seguir
    A ausência de ter um fim,
    E a ânsia de o conseguir!

    Viajar assim é viagem.
    Mas faço-o sem ter de meu
    Mais que o sonho da passagem.
    O resto é só terra e céu.

    Fernando Pessoa, 20-9-1933

    posted by Margarida C. on 11:11 da manhã



    «Bem vindos ao tempo do novo pensamento acreano!»

    sexta-feira, março 23, 2007

    Foto de Lapidim - Amanhecer no Rio Juruá (3,280 km).
    Durante a época seca, quando o nível das águas fica extraordinariamente baixo.
    Cruzeiro do Sul - Acre - Brasil




    Hoje, queridíssimos amigos fizeram-me chegar mais alguns episódios da minisérie Amazônia - de Galvez a Chico Mendes, que a turma continua a rodar no Acre. Subitamente, penso nesse "mundo no fim do mundo" a passar em horário nobre na Globo e a tarefa de narrar/mostrar - essa delicadíssima incumbência de "dar a ver" - ganha contornos que me ocupam o pensar, por toda a manhã. Nos entretantos, recordei-me do texto que o Diogo pediu ao Toinho para publicar. Porque será?!


    (...) Quem sabe o novo pensamento acreano seja fruto de nossa geografia, nossa miscigenação, nossa curta história branca, nossos pensamentos parentes, ou mesmo tudo isso unido a uma certa magia, que dizem, encanta este lugar e faz com que as pessoas não parem de pensar, inquietas?

    Sim, talvez essas peculiaridades nos aproximem do modo de ver o mundo pelo caleidoscópio da humanidade, onde a arte e a comunicação são a lente de aumento e a pequena foto lá no fundo é a estampa da realidade que nos cerca neste tempo, neste Acre. Agora novos olhos e novos olhares recaem sobre este retrato, o retrato do nosso tempo, no lugar em que vivemos. O mais saboroso de tudo isso é que isto é irreversível. Diálogo em expansão.

    Para o que há-de vir, os velhos novos pensamentos parentes são, em verdade, os ventos da mente dançando pelos caminhos da alma. Ventos soprados em doce fúria pela força de um “inútil discurso transcendental” de quem “saiu para dar um passeio pelo quintal do mundo e descobriu que o universo é bem mais profundo”.

    Diogo Soares
    Rio Branco, Acre, em fevereiro de 2007.

    posted by Margarida C. on 1:16 da tarde



    Um "psiuuu!" meu, «Entrechuvas» dele

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    Aquela jaqueira que rebentava na sombra do quintal, fotografada por LV Pedroso - AM, Fevereiro de 2007


    Toinho Alves diz muitas vezes que «a História é feita de parábolas» e que nunca é de mais (re)contá-las. Acredita, Toinho, que «há sempre alguém disposto a descobrir algum sentido».

    Para se entender o confabulado por Toinho, importa enquadrar o ouvido europeu, baixar um pouco a voz e, como quem faz "psiuu!" no breu da caverna da orelha mais inocente e desavisada, explicar que, desde que o mundo é mundo e até há bem pouco tempo, existiam lugares ao ventre onde somente se ia e vinha pela água. Depois do tombo de Ícaro, não ficou nem asa, nem outro caminho. Só a estrada das águas. Ora, acontece e é sabido (igualmente desde que o mundo é mundo) que as coisas líquidas são mais nervosas, dadas a caprichos e outras inconstâncias, próprias de todas as grandezas que têm curso e só são o que são por entre elas e a sua perpétua romagem, não existe nenhum crivo de abismo ou diferença. Essas certas coisas líquidas são rumo, sendo que o rumo não é senão o que sobra esboçado nessa sua mesma liquidez. As águas não são excepção. São, aliás, a matriz. Águas são águas porque têm movimento, têm escorro e córrego. E só. De outro modo, não seriam água. Talvez fossem terra, mas não há como saber. Sempre será uma questão de suposição, imaginação, abstracção - e tudo o mais afecto a esse terminus em "ão" que aponta ao funil oco que sobe da gravidade do chão ao ar - pois, como ficou dito, água é água, desde que o mundo é mundo e não há como possa ser outra coisa.

    É, pois, nesse existir equilibrado sobre a evidência primeira do Princípio, que vivem os Povos da Floresta e das Águas. Nos rebordos de chão que habitam, tudo requer o consentimento peregrino da matriz e, como se vê, ali a matriz é a água. Assim sendo, a vida que vem e que vai, só vai e vem na justa medida das enchentes e das rebaixas que animam cursos e leitos, rios e igarapés. Tudo obedece à mesma cadência régia dessa infatigável romeira líquida, que é a água. Se a água quer, a gente tem peixe, pesca, come e se alimenta. Se a água não quer, a gente mingua e jejua. Se a água deixa, a gente voga e vai. Se a água impede, a gente espera e fica. Sereno, tudo sempre muito sereno. Como é natural, por ser da Natureza. O que aqui se recorda para o peixe, vale para tudo e para todas as coisas. Até para a gasolina que abastece os motores e os automóveis, para a energia eléctrica, o carvão e os cigarros, no trânsito suspenso das balsas e dos navios, interrompendo a navegação, o aportar e a largada, os fluxos de carga e os porões.

    Porque a lei das águas não faz destrinça entre grandes e pequenos e o que é válido para as magras pirogas, é válido também para as barcas e os grandes cargueiros. Assim é o dítame das águas: todos seguem ou ninguém passa. E se a hora for de vedar o largo, todos esperam e esperam juntos até ser hora das águas outra vez se deixarem navegar sem encalhar. Nessas temporadas, abastecimento e trocas podem ser impossibilidades impossíveis de contrariar. Mas assim é também a lei: morar em lugares mais rentes ao ventre é um privilégio dado somente a alguns e a Natureza tem seus esquemas e artimanhas para avaliar o recto merecimento desses que escolhe para abençoar. Não basta querer o paraíso. Isso todos querem, com a mesma compulsão sobranceira que legitimamente nos assiste a todos, de sempre, e em todas as vezes, querermos para nós aquilo que acreditamos ser o melhor entre todas as coisas que se oferecem para querer. De igual modo, não basta querer morar no "Paraíso". Há que ser capaz de nele ter sua morada. É por isso que, para os Povos da Floresta e das Águas, a "serenidade" é tão simples como estar vivo. Eles sabem que essas "privações" são somente um modo errado de pronunciar o que os distingue dos demais humanos.

    A Grande Floresta é "grande" porque vomita farturas por todos os poros. Não há, em verdade, segredo algum a esse respeito. Até mesmo aqueles que nunca nela se emaranharam, sabem por terem ouvido dizer que tudo ali é abastância. É sabido que na Grande Floresta tudo é vida e toda a gente sabe que não há outro alimento que melhor possa alimentar a vida do que a própria vida. Acontece que viver em fartura é fácil, todos querem, todos são voluntários espontâneos, se oferecem e disponibilizam. Não tivesse a Natureza encontrado seus justos mecanismos de selecção, e talvez o mundo se tornasse um imenso deserto humano, com todas as pessoas a confluirem para os lugares onde a vida pode se enfartar sem esforço, nem misericórdia. Mas a Natureza é sábia e tratou de dificultar ímpetos fáceis e previsíveis, para proteger a fertilidade dos seus mais sagrados úteros, pois que toda a fonte deve ser preservada e poupada, não muito diferente do que todo o lavrador faz por instinto com o gado fêmeo em trabalho de parto contínuo. Tudo isso de que resultam as "privações" não é senão o entorno que se tornou preciso criar para decidir do merecimento de alguns para erguer suas moradas junto á perigosa e tentadora fonte de abastanças e riquezas tamanhas.

    Estão junto aos cardumes, aqueles que sabem sorrir de barriga vazia durante o tempo de sua ausência do corpo dos rios. Como estão próximos da raiz pura do guaraná somente aqueles que também suportam o calor sufocante, os mosquitos, as febres das matas, os uivos do breu, o rugido das onças cercando a noite, a picada do aluvião dos leitos, entre esta e aquela pedra.

    Não é grave que o afastamento das águas leve embora o alimento de hoje. Eles sabem que a vazante é o começo da enchente, e que o marulhar dos rios, lagoas e igarapés retornará breve e grávido de cardumes crescidos. Grave seria se a água se atrasasse ou fosse embora e não voltasse nunca mais. Esse sim, seria um abandono tão imperdoável quanto inesperado. Mas não é assim com a água. Água é matriz porque é mãe. E mãe nunca se afasta ao ponto de jamais regressar. Deserções assim são próprias dos mortais, sendo que até entre mortais existem dignas e honrosas excepções.

    Já se disse, é sabido. A Natureza é sábia e os sábios não fazem suas escolhas por acaso. Muito menos no que juntam, casam, misturam ou aproximam.

    A proximidade é uma grandeza de relação, que vai de uma coisa a outra e, nesse sentido, une a outra à uma e a uma à outra. De sábia que é, a Natureza sabe que grandezas díspares não se podem unir e, por conseguinte, sabe também que nem tudo se deve permitir à união. Rompe, afasta, aparta, dissolve... que a Natureza também sabe ser implacável na defesa do lugar certo de cada um e de cada coisa. E se dúvidas houver, manda rugir onças ao luar, faz subir febres na mata, apaga do bolso o cigarro, esvazia do rio os peixes e deixa barrigas vazias a jejuar. Sabe que assim reconhecerá os que pertencem às águas e à floresta. Sabe que esses sobreviverão sorridentes às "privações" e que os há-de reconhecer andando a pé, catando galhos secos, tomando cachaça ao redor da fogueira, cantando canções verdes ao violão, de frente para a jaqueira que vai engordando no fundo do quintal. Sem pressa. Sem ter mesmo pressa nenhuma. Serenos. A jaqueira e eles. Eles como a jaqueira: «vida possível rente ao chão». Como é natural. Por ser da Natureza.



    Acho que já contei, aqui, a história da crise de abastecimento na cidade de Rio Branco no início dos 80. Se contei, repito, porque há de servir a alguém. A História é uma parábola feita de parábolas e há sempre alguém disposto a descobrir algum sentido. Pois se tem até quem procure petróleo! Aliás, é sobre isso o causo.

    Já havia começado a chover e a estrada, que ainda não era asfaltada entre Porto Velho e Rio Branco, arruinou totalmente. Ficou uma fila de mais de cem caminhões nos atoleiros. Só que as chuvas ainda não eram suficientes para encher os rios, que permaneciam mostrando seus altos barrancos, e as balsas ficavam encalhadas logo acima da Boca do Acre. Começou a faltar de tudo, na cidade. As pessoas iam para o aeroporto esperar quem chegasse trazendo cigarros. Começou a ter racionamento de energia elétrica, pela falta de óleo diesel na usina. Postos de gasolina fecharam. A falta do gás de cozinha fez renascer o comércio do carvão, transportado em carroças de boi.

    Encostei meu carro na frente da redação do jornal, onde o vigia, seu Amadeu, tomaria de conta. E andei a pé por quase um mês, numa alegria infantil de ver o mundo voltando a ser como antes. Txai Terri era meu vizinho e, à tarde, saíamos pelos arredores catando galhos secos e ripas de velhas cercas para fazer fogo. À noite chegavam Pia e Felipe numa moto, trazendo um violão, e ficávamos ao redor da fogueira tomando cachaça e cantando canções acreanas.

    Eu queria que aquela situação permanecesse por mais tempo, para que a chegada tão rápida da modernidade sofresse uma interrupção, para que as pessoas buscassem alternativas de vida mais simples, para que uma jaqueira se tornasse mais importante que um aparelho de tv, ao menos por algumas semanas. Não aconteceria nenhuma grande mudança, eu sabia, mas algumas pessoas se lembrariam de que a vida é possível rente ao chão, sem tanta tralha.

    Finalmente a chuva parou e os caminhões andaram, depois o inverno se instalou para a subida das balsas, o progresso retornou ao fim do mundo, tudo voltou ao normal e deu nisso que temos hoje.
    António Alves - "Entrechuvas"

    posted by Margarida C. on 8:07 da manhã



    «Hold»

    quinta-feira, março 22, 2007
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    Foto da minha ancestral, virtual-virtuosíssima e tribal consanguínea companheira Tati Cardeal - «Hold»
    (encontro indígena em Betioga, SP - 2006)


    The mind, like the dyer's hand, is colored by what it holds.
    — fonte desconhecida

    posted by Margarida C. on 9:18 da manhã



    (In) Fusão

    quarta-feira, março 21, 2007
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    Foto de Ângela M. - com a tribo dos Tapeba (Brasil, Julho de 2004)


    Andámos pela serpentina dos rios. A correr leitos barrentos. A mergulhar sem ver. A ver mais claro nas superfícies turvas adentradas. Nadando horizontais, desenhando braçadas e pingos sobre a cama líquida das vitórias régias. Como os peixes e as guelras. No remanso dos barrancos alagados e nas várzeas a descoberto, quando a corrente abaixa e o rio desce e as magras tiras de areia lavada se estiram ao sol, a salvo das chuvas e das enxurradas.

    E só depois percebi que me entrou pela pele este vício de águas pardas, que nem aqui me deixa e há-de ser para sempre. Como uma segunda história agarrada à alma, atravessada em bem-fazejo espinho ao coração, por debaixo dos ossos, por debaixo do lugar onde o corpo ainda me dói como doía. Como jamais há-de curar-se de me doer.

    posted by Margarida C. on 10:53 da manhã



    «Tempo Rei / Ó, Tempo Rei / Ó, Tempo Rei»

    terça-feira, março 20, 2007
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    Apparent disk of Moon for 2007 Mar 21 at 00:00 UT
    NASA - U.S. Naval Observatory Astronomical Applications Department


    Bem sei que o ano é bissexto e ainda bem! Porque dizem que todo o ano bissexto serve para introduzir uma correcção ao movimento e reaproximar o tempo dos homens do tempo real do mundo. E também sei que falta pouco para o equinócio boreal que trará a Primavera e devolverá o planeta ao primeiro ciclo de fogo do ano.

    É certo que também dizem que os anos bissextos baralham as contas celestes a quem anda a medir a duração dos dias. Mesmo assim, gosto de pensar que daqui a pouco, quando raiar a aurora, haverá uma metade exacta do corpo do Sol que estará acima do horizonte, e que, quando o crepúsculo cair, uma outra metade perfeita estará oculta abaixo dele.

    Porque gosto de pensar que toda a linha divisora é, afinal e só, fiél de equilíbrio a trespassar a duração de tudo o que acorda e adormece. Hoje em partes iguais, em metades iguais. Dias e noites iguais, então. Hoje, só hoje. Só duas vezes no ano. Mas gosto mais desta, confesso. Porque, a partir daqui, cada dia que passar há-de aumentar-se à razão das noites que se encurtam, e do inevitável regresso da assimetria há-de resultar a insolação maior do hemisfério. E eu gosto. Também gosto. Que a perfeição se desequilibre em nome de mais horas despertas, mais luz e mais calor. Gosto, também gosto. Do ganho assimétrico que há-de deixar a Terra mais perto do Sol. Porque quando a Terra está mais próxima do Sol viaja mais veloz.

    posted by Margarida C. on 11:32 da tarde



    «Não sei o que é sentir»


    The Gift - "Fácil Entender"
    (durante os dois dias de gravação da AM/FM Tour em DVD)



    The Gift - "The Mirror" + "Fácil de Entender
    "
    (Concerto de 11 de Dezembro de 2006 no Portimão Arade)
    in www.portitv.com



    A mais recente das inusitadas "perseguições" que algumas músicas, por vezes, me movem. Toca onde quer que entre, por onde quer que vá, onde quer que eu esteja. Na rádio, então, é fatal como o destino. E não adianta mudar de frequência porque volto a apanhá-la algures na banda do FM, mais adiante, mais atrás (não importa!): do início, a meio, já a raiar os acordes que lhe preparam o fim (não importa!). E não lhe contrario nem o acaso, nem a coincidência. Escuto. Até aqui, no blog.

    (...)

    Por mais vezes que oiça, confesso que me comovo sempre com essa qualquer coisa que só se aflige o suficiente nesse rojo de fundo que há nas vozes graves e sujas. Não sei. Nunca entendi bem essa minha propensão do ouvido para certos timbres. Talvez seja mesmo só o travo castigado que trazem por debaixo, essa espécie de lastro subcutâneo que sempre arrastam, quando a língua roça a palavra na primeira sílaba, e que deixam depois como rasto, a seguir ao som se despedir da boca. Talvez me seja só, simplesmente, mais fácil de entender. Não sei. Não é importante saber. Se fosse saberia. Sei o que basta: os roucos fazem-se sempre ouvir acima das mudas vozes estridentes de outros.


    p.s. - Ficam duas versões. A última abre com a minha eterna: a preferida do 1º álbum - Vinyl (entendam como... um bónus!). Estávamos em 1998. Foi o primeiro encontro: eles uma banda sem trapézio, que vinha de Alcobaça, tão garota na música como nós na televisão. Entraram-nos porta adentro "porque sim". Entraram a dizer que sabiam que eram bons e nós também, que mereciam e nós também, que valiam a pena e nós também. Nós não quisémos. O editor recusou. Paciência! Estava escrito que haveriamos de nos cruzar mais vezes (tantas vezes!), não é verdade Sónia?!

    posted by Margarida C. on 8:10 da tarde



    Impressões do Acre: «Paixão à Primeira Vista»

    quinta-feira, março 15, 2007
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    Foto de Cora Ronai - Acre (Março de 2007)


    Na volta do Acre, Cora escreveu sobre a visita no jornal.
    Eh, Cora, todo o viajante que pisa chão novo pela alma - e não apenas para colocar só mais uma bandeirinha no mapa mundi percorrido - sabe bem o quanto urge dar voz de notícia à viagem!...

    Cidades limpas e cuidadas, casinhas humildes mas tinindo de arrumadas: sorria, você está no Acre!
    Hoje de tarde fui à Bolívia, que fica logo ali. Encontrei Lima Duarte e Cássio Gabus Mendes bebendo umas Paceñas no boteco da esquina, enquanto, na praça em frente, centenas de maritacas fofocavam antes de se recolherem às palmeiras onde dormem. Conversamos e rimos muito; na volta, parei na beira do rio para me despedir de três jovens capivaras que avistei ontem. Não, não estou de pileque. Estou na cidade de Brasiléia, a poucos quilômetros de Xapuri. Vim de enxerida, ver as gravações da segunda fase de "Amazônia", a fantástica minissérie de Glória Perez -- e estou totalmente apaixonada pelo Acre.

    A exuberância da natureza na Região Norte nunca deixa de me surpreender, mas no Acre há bem mais do que isso -- há um amor pela terra que se manifesta nas centenas de bandeiras do estado que tremulam em mastros oficiais, que se mostram nas lojas e nas casas, e que percorrem as ruas como adesivos de automóveis, motos e bicicletas. Isso quando não vão coladas ao próprio peito dos acreanos, como estampas de camisetas.

    Em nenhum outro lugar do mundo, nem mesmo na Nova York dos tempos da campanha "I love New York", vi tanta gente usando camisetas com símbolos locais.

    Faz um bem danado à alma da gente ver isso.

    Depois há, por toda parte, paredes pintadas nas cores mais alegres. No começo achei que isso fosse coisa da capital, privilegiada por administrações de matar qualquer carioca de inveja; mas não. Percorrendo os mais de 200 quilômetros que levam de Rio Branco à fronteira com a Bolívia, onde quer que se pare há uma janela vermelha, uma porta azul, uma fachada verde.

    Esse gosto pelo colorido se vê igualmente nas roupas estendidas para secar. Qualquer varal humilde perdido pelo interior parece adereço cenográfico. Isso, aliás, criou um interessante paradoxo para a equipe que faz "Amazônia", e que acabou deixando de lado muitas locações importantes, porque pareceriam bonitas demais, limpas demais para serem verdadeiras.

    O grau de limpeza surpreende, mesmo. Em Rio Branco, cheguei a pensar que as ruas tão bem tratadas fossem apenas o resultado de um esforço ocasional para transmitir uma boa imagem, aproveitando a visibilidade proporcionada pela minissérie; mas em Brasiléia e em Epitaciolandia, onde encontra-se a equipe da Globo, há cuidado igual com os espaços públicos. As cidades não são ricas, em alguns lugares o asfalto está esburacado por causa das chuvas, mas quase não se vê lixo nas ruas ou pichações nas paredes.

    Confesso que, diante dessa pobreza digna e asseada, me envergonhei pelo estado lastimável em que se encontra o Rio. Como todo carioca, estou cansada de saber que não há turista americano ou europeu que não fique chocado diante de tanta sujeira e falta de manutenção; agora sei, por constatação própria, que, neste quesito, fazemos feio também diante dos acreanos.
    * * *
    Percorrer este interior, que o pessoal gosta de definir como "Brasil profundo", sempre me comove. Entra-se em outra dimensão do tempo, num mundo mais simples, menos consumista, mais apegado aos valores da terra.

    Vejo as casinhas modestas de madeira, de um ou dois cômodos, limpas e aconchegantes, onde as pessoas vivem com tão pouco, e me assusta o contraste com as cidades grandes, onde cada vez juntamos mais coisas inúteis à nossa volta.

    É claro que há também o reverso da medalha. Tenho uma tendência natural a buscar o lado bom do que me cerca, mas é impossível ignorar a devastação pela qual passou este estado ao sobrevoá-o, ou a atravessar quilômetros e quilômetros de pastos e mais pastos.

    A paisagem é linda e bucólica, com certeza -- mas ali, onde pasta o gado, houve, um dia, uma floresta inteira que veio abaixo.

    Isso corta o coração.

    Passeando por Rio Branco de bicicleta com Jorge Viana, ex-prefeito e ex-governador, também era impossível ignorar a presença ultra-discreta dos guarda-costas, que não estavam lá como símbolos de um eventual poder, mas como necessidade fundamental de sobrevivência de um homem que teve coragem de desafiar os bandidos que controlavam a região.

    Quem lê jornal sabe que este é um lugar onde as desavenças continuam a ser resolvidas a bala.

    * * *

    O Acre não é um destino turístico como Manaus ou Belém, mas deveria ser. Não tem teatros mirabolantes plantados na selva (quase não tem mais selva, a bem da verdade) mas, entre seus defeitos e qualidades, entre as tragédias do passado e o gigantesco esforço de recuperação da auto-estima do presente, reúne uma quantidade única de lições de Brasil.

    Cheguei há três dias, vou embora logo, mas tenho, desde já, duas certezas: a de que esta foi uma das mais extraordinárias viagens da minha vida, e a de que este é um recanto do meu país que levarei para sempre no coração.

    por Cora Ronái
    publicado em O Globo - Segundo Caderno (15.03.2007)


    Se estivessemos lado a lado, agora, bebendo "umas Paceñas no boteco da esquina", ou na falta, uma Skoll ou uma Antártica bem gelada, partilharia com você, Cora, esse mesmo embaraçante rubor diante da "pobreza asseada". Te contaria em viva voz, Cora, que, no mesmo dia em que seu artigo é publicado, o ministro do Ambiente português anunciou 15oo milhões de euros para a «reabilitação urbana» de Lisboa e Porto. E igualmente envergonhada, te diria que ao ouvi-lo me fiquei a perguntar - a fazer fé no inventário das carências e no diagnóstico das necessidades - quantos mais milhões ficam em falta para «reabilitar» todas as cidades de Portugal, tão iguais em direitos e prioridades, não fora o facto de não serem, como Lisboa e Porto, as maiores do País. Mas isso seria se a nossa conversa acontecesse antes de ler o seu artigo e você me trazer à memória o limpo colorido das poeirentas ruas varridas da Terra do Chão Vermelho. Depois disso, depois da sua crónica, depois de destravar a memória e de me pôr a pensar um bocadinho, te confessaria antes a minha suspeita de que talvez 15 milhões de euros sejam até um exagero. E então, entre dois golos gelados, muito provavelmente te falaria da minha desconfiança nascente de que qualquer vassoura faria mais, melhor e mais barato. Assim houvesse esse respeito das gentes do Acre por aqui, em Lisboa e no Porto e em todas as cidades do meu País. Assim houvesse uma cultura educada na convicção de que cada beira de calçada é um quinhão urbano que cabe a cada morador cuidar. Tal e qual o tapete da sala. Tal e qual o canteiro regado na varanda de sua própria casa.
    Porque o que acontece no Acre é que as ruas da civilização não se perderam dos trilhos da floresta. Pelo menos, não completamente. Não irremediavelmente. E, assim sendo, foi o próprio espírito da florestania que tomou a cidade e a fundou no respeito pelos mesmos princípios e valores com que o índio pede licença à Grande Floresta para lhe apartar em discreta clareira o arvoredo e ali aninhar a sua maloca. É o mesmo amor originário que os acreanos (como todo o Povo da Floresta, aliás) nutrem pelo chão que lhes dá guarida, que invade a urbe e se vê - vivo ainda, sadio ainda - nas ruas "coloridas" e "limpas". A provar que nem todo o capital trabalho pede euros e reais para ser cumprido. A demonstrar que é um investimento outro, esse que o património primeiro pede. E, contas feitas, se percebe que são quase nada em eficácia, os bolsos mais abonados de recursos das cidades grandes, ao pé do esmero cuidado e do orgulhoso zelo das cidades outras.

    posted by Margarida C. on 3:03 da tarde



    Eu sei. Por qualquer poesia/magia/razão.

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    Fotografada por V. Garibbaldi - Rio Negro (AM), Junho de 2004

    Eu sei
    Tudo por acaso
    Tudo por atraso
    Mera distração (diversão)
    Eu sei
    Por impaciência
    Por obediência
    Pura intuição
    Qualquer dia, qualquer hora
    Tempo e dimensão
    O futuro foi agora, tudo é invenção
    Ninguém vai saber de nada
    E eu sei
    Pelo sentimento,
    Pelo envolvimento,
    Pelo coração
    Eu sei
    Pela madrugada
    Pela emboscada
    Pela contramão
    Por qualquer poesia
    Por qualquer magia
    Por qualquer razão

    Lenine - "Tudo por acaso"

    posted by Margarida C. on 11:59 da manhã



    Dia Internacional da Mulher

    quinta-feira, março 08, 2007
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    Foto e composição de Margarida C.



    W As a woman I have no country.
    As a woman my country is the whole world.
    Virginia Wolf



    posted by Margarida C. on 6:27 da manhã



    The Road

    terça-feira, março 06, 2007
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    Foto da minha estimadíssima amiga Sheila F. - Amazónia 2004


    "Two roads diverged in a wood, and I…
    …I took the one less travelled by, and that has made all the diference"

    The Road not Taken - Robert Frost (1874 - 1963)

    posted by Margarida C. on 6:22 da tarde



    Escrito num tampo de botequim


    Foto: Ediney Santana, fotografado por Heraclia - Fevereiro de 2007



    Cruzámo-nos, por um acaso da sede, no Bar Vermelho, lá para as bandas de Santo Amaro, na Bahia. Falava uma língua sua e pelo meio largava palavras. Podia ser quase triste, mas como tinha a poesia, era somente quase alegre.



    As flores eram o seu maior temor. Não importava se eram flores naturais ou artificiais. Uma simples gravura de uma desbotada flor qualquer lhe despertava o mais profundo sentimento de tristeza. Todas as noites colocava um velho vinil de Edith Piaf. Ficava ali parado e sem razão, sem desejos e esquecido para o mundo. Quarta-feira de cinzas, sua ruazinha dormia o silêncio da alegria, o carnaval foi-se na balada melancólica dos seus olhos aflitos. Naquela cinzenta tarde algo aconteceu. Ligou para a floricultura e pediu todas as flores amarelas. As flores amarelas eram as que mais o apavoravam. Flores em casa, lágrimas, calafrios, tremores. Amanheceu, corpo nu, e ao redor: flores na boca. Nas mãos cerradas: flores. Havia uma paz na cidade. Piaf: morta...Rua calma, arco-íris... Ao longe uma criança canta:


    «O anel que tu me deste
    era vidro e se quebrou
    O amor que tu me tinhas
    era pouco e se acabou.»

    Ediney Santana - A Vida Reinventada e Outras Histórias


    Agora, além dos livros e do copo entre o vazio e o cheio, também tem um blog: AQUI


    posted by Margarida C. on 9:03 da manhã



    O dia entrando pela janela da frente

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    Fotos e composição de Margarida C.

    posted by Margarida C. on 6:32 da manhã

    domingo, março 04, 2007

    posted by Margarida C. on 9:22 da tarde



    Clic!

    sábado, março 03, 2007
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    Foto de Ângela M. Ferreira - "o amor das coisas no seu tempo futuro"



    Podes, sim: porque não?! Eu deixo. Vamos trocar de lugar, inverter a perpectiva, mudar a posição e o foco. Espreita. Diz-me o que vês, que eu digo-te assim: um dia também consegui ser como tu - só uma garotinha.

    Ceará - Outubro de 2004

    posted by Margarida C. on 5:12 da tarde



    Equívoco

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    Vês? não há nada a chorar.
    O que pensavas não existe.
    A esfera é assim: bola ao ar,
    é muito mais bola que triste.
    Ângela M.Ferreira (texto e foto) - "Princesa"

    posted by Margarida C. on 10:55 da manhã



    ... E esta saudade de tudo o que me amansa

    sexta-feira, março 02, 2007
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    Foto de Ângela M. Ferreira - "Redes: As Tuas Mãos nas Minhas"


    Para Vitória, Meyre, Dal e Constância de Blois.


    posted by Margarida C. on 11:41 da manhã



    "Ás Vezes"

    quinta-feira, março 01, 2007
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    Foto da minha estimadíssima amiga Sheila F. - Amazónia 2004


    Ás vezes julgo ver nos meus olhos
    a promessa de outros seres
    que eu podia ter sido,
    se a vida tivesse sido outra.

    Mas dessa fabulosa descoberta
    só me vem o terror e a mágoa
    de me sentir sem forma,
    vaga e incerta
    como a água.


    Sophia de Mello Breyner - "Ás Vezes"

    posted by Margarida C. on 11:55 da manhã

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